sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Tira-me o oxigénio à vontade!

Tira-me o oxigénio à vontade! Coloca um garrote a apertar o meu pescoço a cada segundo que passa, Que ainda assim não estilhaçarei de pólvora o pensamento, Nem o coração. Delicadamente descansarei na cadeira de vime Tão antiga como o tempo em que fazíamos amor Sobre ela Bebendo mais um copo de vinho. Recordas-te da ânsia com que nossos corpos moldados Um no outro Se entregavam? Eram puro bailado! Podes retirar-me o oxigénio à vontade! Parti com as medusas naquela Primavera sorridente De Maio onde pela última vez nos contemplámos. Levei no peito o choro de todas as guitarras. Célia Moura, in No Hálito de Afrodite" Antoine de Villiers Painting

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Mulheres Com Asas de Falcão

 

Mulheres Com Asas De Falcão

As mulheres com asas de falcão
Entoam hinos ao anoitecer,
Vestem-se de organza e caxemira
Despindo a alma sorrindo
Em taças de poesia
Perante os dentes assassinos das hienas.

Elas cuidam, acolhem, mimam
E choram às escondidas
Toda a dor das ausências
Peregrinando gargalhadas, inventando estórias
Para seus filhos
Os delas, e os que a vida lhes concedeu.

As mulheres com asas de falcão
Esquecem seus soberbos corpos
Em prol de um Amor maior
E sorrindo, continuam chorando em segredo
No silêncio de seus quartos fantásticos
De rubras rosas, rubis e frescas açucenas.

E antes de voarem rumo ao infinito
Deixam suas vestes pelo chão do tempo
Na doçura que teimam em guardar,
Meninas, mulheres com rostos de quimera
Sobreviventes ao desdém.


Célia Moura 

Imagem - Fabian Perez painting




quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Quero-te liberdade
Com cheiro a hortênsias do meu quintal,
Seiva
Rosmaninho
E cânticos de sereias loucas
Entre o linho do prazer
E o segredo
Da insubmissão

Quero-te Grito!
Em todas as esquinas escrito
Por nossas mãos
Hirto,
Giestas em meu corpo já aflito
No sangue deste povo
Bendito!


Célia Moura – A publicar “Terra de Lavra”
Ilustração – Simon Clarke Photography
 





segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O melhor lifting para a pele de uma mulher é ser amada, e o seu melhor ginásio 
é fazer amor apaixonadamente com o homem que a faz vibrar.

Célia Moura


Calar-me-ei .
Deste sangue.
Que me fere e me ofusca.
Quando da minha boca saírem.
Raízes mortas.

   Célia Moura
   Benoit Courti Photography


domingo, 28 de outubro de 2018

As Mães Nunca Morrem

Não
As Mães nunca morrem!

Mãe é Luz acesa
Na imensa escuridão da noite
É vida primeira
Na nossa vida,
Bandeira de Amor hasteada
Em todos os palcos, prantos e sorrisos
De nós.

Mãe
É pele primeira, é sangue, é cordão umbilical
É grito de dor e alegria maior
Sublimação das esferas
Deusa de todas as quimeras!

Mãe
Poderá ser primeira e derradeira palavra.
É fragata em alto mar
Sobrevivente
A todas as preces.

Ainda que se despedindo
Em seu último fôlego,
Mãe não parte!

As Mães nunca morrem!
Sempre no Inverno, na Primavera, no Verão e no Outono
Elas estarão acolhendo seus filhos pela mão
Plantando flores diversas em seus peitos,
Sussurrando sábios conselhos
Na voz da maresia
Em cada gaivota que passa.

Mãe
É e será sempre teu cais de silêncio
Tuas mãos entrelaçadas na berma da Ternura
Desafiando o Tempo.



Elas ficam do outro lado
Fiando memórias
Tecendo a eternidade
Aguardando-nos.


 






 


 









Poema - Célia Moura – a publicar Terra De Lavra
Imagem – Andy Prokh Photography

Reflexos

Ouço-te amada minha
Nos vestígios da infância
Enquanto sorrindo entrançavas meus longos cabelos
Na clareira onde a mais cristalina das águas
Nos banhava os seios em esplendor.

Ao longe gemiam os amantes
Como se o eco estridente de nossa inocência
Os aliviasse no leito das brandas açucenas
Tudo o resto foram archotes nos meus olhos
E exílios de nós.

Célia Moura, a publicar

Tira-me o oxigénio à vontade!

Tira-me o oxigénio à vontade! Coloca um garrote a apertar o meu pescoço a cada segundo que passa, Que ainda assim não estilhaçarei de pólvo...