segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O melhor lifting para a pele de uma mulher é ser amada, e o seu melhor ginásio 
é fazer amor apaixonadamente com o homem que a faz vibrar.

Célia Moura


Calar-me-ei .
Deste sangue.
Que me fere e me ofusca.
Quando da minha boca saírem.
Raízes mortas.

   Célia Moura
   Benoit Courti Photography


domingo, 28 de outubro de 2018

As Mães Nunca Morrem

Não
As Mães nunca morrem!

Mãe é Luz acesa
Na imensa escuridão da noite
É vida primeira
Na nossa vida,
Bandeira de Amor hasteada
Em todos os palcos, prantos e sorrisos
De nós.

Mãe
É pele primeira, é sangue, é cordão umbilical
É grito de dor e alegria maior
Sublimação das esferas
Deusa de todas as quimeras!

Mãe
Poderá ser primeira e derradeira palavra.
É fragata em alto mar
Sobrevivente
A todas as preces.

Ainda que se despedindo
Em seu último fôlego,
Mãe não parte!

As Mães nunca morrem!
Sempre no Inverno, na Primavera, no Verão e no Outono
Elas estarão acolhendo seus filhos pela mão
Plantando flores diversas em seus peitos,
Sussurrando sábios conselhos
Na voz da maresia
Em cada gaivota que passa.

Mãe
É e será sempre teu cais de silêncio
Tuas mãos entrelaçadas na berma da Ternura
Desafiando o Tempo.



Elas ficam do outro lado
Fiando memórias
Tecendo a eternidade
Aguardando-nos.


 






 


 









Poema - Célia Moura – a publicar Terra De Lavra
Imagem – Andy Prokh Photography

Reflexos

Ouço-te amada minha
Nos vestígios da infância
Enquanto sorrindo entrançavas meus longos cabelos
Na clareira onde a mais cristalina das águas
Nos banhava os seios em esplendor.

Ao longe gemiam os amantes
Como se o eco estridente de nossa inocência
Os aliviasse no leito das brandas açucenas
Tudo o resto foram archotes nos meus olhos
E exílios de nós.

Célia Moura, a publicar

Tantos gritos embatem contra as paredes
Da casa habitada de nada,
Ainda que Mozart faça escorrer linho
Dos cabelos frágeis
E desperte o sémen às flores,
Sempre os ardentes gritos matinais
Os mais noctívagos, os sonolentos
A transbordar o cérebro das gentes.

Vou à varanda e sorrio sempre que a vejo.
No meio de um bando de pombos que surge de quando em vez,
Lá vem ela, veloz como o vento
Trespassando-me o olhar
A minha pomba branca.

Absorvo aquele instante, como se fosse meu fôlego de vida
E inspiro todo o silêncio
Os gritos adormeceram de cansaço
A música agora é um céu imenso sem pensamentos
Cérebro em paz, por momentos estancado
Somente o coração se sente.

© Célia Moura Poesia
(Edward Zulawsk Photography)
Nada restou de ti
Senão o eco dolorido dos teus passos
Pelo antigo soalho,
E é tanto (meu) amor
Que essa profana que em mim habita
Sai rua fora
Incendiada de instantes
Rebolando nas famintas coxas,
Trôpega, a saudade

Mas eu que sou ninho de andorinha
Murmúrio de vento aninhado
Beijando beirais

Permaneço lá
Exilada à velha casa
Porque me nasceste colina
Entre os seios
E lírios nos cabelos

Não, nada restou de ti
Senão esta dilacerante embriaguez de vida
Que me revolve e renasce
Todo o sangue nas artérias.

Célia Moura
Steve Richard Photography

Morrem-me os dias
Nos ombros das planícies
Que teus olhos carregam como um fardo.

Morrem-me os gestos
No entardecer das palavras
Meu amor,
Neste Outono
Em que as crianças já não sabem
Brincar à chuva.
É quiçá por elas que sobrevivo ainda
Entre o riso e a loucura
Porque meu leito é pronto
Repleto de silêncio
E eu resisto,
Persisto
E não vou

Morrem-me as memórias,
Os portais da infância,
As estrelas,
E até aquela
A mais consagrada de nós!
Onde me terei esquecido dela?
Terá sido na varanda das quimeras
Entre o banal e a desgraça?!

Morrem-me as mãos
Em sua dormência
Exauridas de clemência
Expostas ao sagrado e ao profano.

Morrem-me os dias
A cada anoitecer
Tal como tudo o que é natural e se esvai.

E tu
Morres-me nas palavras que não sei dizer
E naquelas que jamais te diria
Entre lírios brancos e orquídeas
Lágrimas e sangue de mim
Neste exílio onde me enluto
Enlaçada no beco do teu corpo,
No hálito dos teus sentidos
E na saudade das nossas mãos
Beijando o carmim dos dias.

Célia Moura, a publicar “Terra de Lavra”

Êxtase

Isso rasga-me a alma com doçura
quero lá saber que me dispas
numa viela qualquer.

Há muito se acenderam os candeeiros da cidade antiga
invadindo tesão pelos amantes.
Hoje sou de mim
exijo perder-me na luxúria dos teus lábios
ouvindo gemidos e cânticos de Afrodite
enquanto me possuis de pé
contra uma parede qualquer.

E regresso ao tempo da ternura
neste fugaz reencontro
como se de súbito os anos não tivessem sido
coisa nenhuma
a minha cama fosse a tua cama
e eu sempre te tivesse esperado
enroscada ao silêncio que me adormecera

nos meus lençóis de cetim
acordando num grito de prazer
desabrochando sorrisos em ti.

Célia Moura, in "No Hálito De Afrodite" - Out/2018
Fabian Perez painting

Um Abraço

Duvido que as estrelas e o infinito me consigam responder quem és, de onde surgiste, nem sequer por mais imaginação que tenha consigo imaginar uma idade para ti.
Aquele momento em que vieste a mim, esse sim, tem nome, tem cheiro, tem emoção sempre.

Foi na rua, é sempre na rua que me acontece o melhor e o pior. Porque será nas ruas que me perco e que me encontro, questiono-me tantas vezes.
Deveria só por isso ter sido parida na rua, mas não fui.
Quem sabe nas ruas eu morra…
Que Deus não permita, mas que eu não veja tanto ser humano como tu que a mim vieste, morrer nas ruas. Não é digno partir sozinho no abandono de uma rua, de um beco, de um banco de jardim.

Trazias a fome nos olhos, escorria-te dos cabelos a vil miséria de um país tão ou mais desgraçado que tu.

São para ti estas palavras que escrevo sem nexo, porque preciso, porque talvez nunca mais te veja e quero que saibam que o genuíno abraço que me ofereceste foi sem sombra de dúvida um dos mais intensos que já recebi.
Trouxe comigo o teu cheiro, mas não fiquei incomodada, ainda que fosse nauseabundo, enquanto te deixava a comer sentado na mesa do café, e meus passos impotentes se afastavam e os olhos já transbordavam as lágrimas. Ia clamando serenamente a um Ser superior que cuidasse de ti já que eu não tinha quaisquer meios e te deixei em Suas Mãos.

Daquele momento nosso, da breve alegria dos teus olhos como uma criança pobre a quem dão um brinquedo, neste caso comida e da felicidade que trago em mim do teu abraço, alimento-me tantas vezes meu Irmão e aguardo o nosso reencontro.
Sabes, não trocaria a autenticidade do teu abraço por nenhum outro, ainda que fosse de alguém bem poderoso, bem cheiroso, de excelente aparência…esses para mim não passam de números, abraços como os teus são lume, são a essência que move os dias.


Célia Moura - 2014
Imagem- "google"

sábado, 27 de outubro de 2018

Terra



Trago na pele
O odor das macieiras
No entardecer da espera
Quando a semente lançada
Ao ventre da terra amanhada
Pelo arado da esperança
Me carrega no tempo
Caminhos de urze e de giesta
Neste cimento armado,
Erguido por todos os lados,
Árvores moribundas da cidade
 Transbordantes viscerais de
Ânsias fétidas,
Fome.

Trago no sangue
Crianças e pássaros de todas as cores,
Mães que sorriem com seus filhotes
Ao colo,
Alguns agarrados às saias,
Trago refrescos de limão
E piruetas ao redor da fogueira…

Trago tuas árduas, ternas mãos
Entre as minhas,
Meu mantimento, meu pão
E as minhas sujas do musgo
Que invento pelo Natal.

Célia Moura – a publicar “Terra De Lavra” [13/09/2014]

Um dos melhores caminhos para a Sabedoria é ter ingenuidade de criança e não se levar muito a sério.

Célia Moura 


Partilha o que tiveres de ti, não poderá ser de outro modo,
Que sempre sobrevivas à miséria que hoje fustiga a alma do teu Irmão.
Não impeças o curso às águas.
Não emprestes. Dá. Porque nada do que tens é realmente teu.

Célia Moura
Bjarte Hoff photography
Por vezes é preciso dançar com o diabo para se sair do inferno.

Célia Moura
Carl Parow photography
Trago em mim a infância guardada numa caixa de madeira com uma fita de seda. Quase todos os dias a espreito para me reencontrar num sorriso de miúda sem idade.

Célia Moura

Caras Ionut photography

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO



https://www.youtube.com/watch?v=TueK35ZEW-c




sexta-feira, 26 de outubro de 2018


Quero-te liberdade
Com cheiro a hortênsias do meu quintal,
Seiva
Rosmaninho
E cânticos de sereias loucas
Entre o linho do prazer
E o segredo
Da insubmissão

Quero-te Grito!

Em todas as esquinas escrito
Por nossas mãos
Hirto,
Giestas em meu corpo já aflito
No sangue deste povo
Bendito!

Célia Moura – A publicar “Terra de Lavra”
Ilustração – Simon Clarke Photography
Percorro avidamente a alvorada
Da tua pele
Convoco as delirantes ninfas
Que em mim vão despertando
A catarse,
Guardo teu néctar no meu ventre
Que de Luz me delicia,
Aconchego-me à ternura
E vou meu amor rumo à enseada
Do destino.

Voltarei um dia de mãos dadas com a Primavera.

Célia Moura
Benoit Courti Photography

domingo, 21 de outubro de 2018

Não é a idade capaz de retirar beleza a uma mulher, bem pelo contrário, existem mulheres que com o avançar da idade se tornam ainda mais belas, mas sim e nefastamente a falta de saúde e de amor.

Célia Moura

domingo, 14 de outubro de 2018

Apaixonadamente de Mim

Apaixonadamente de Mim


Escorre-me pelas pernas
este frémito,
é como um séquito
o desejo
que me invade a púbis, as coxas
e o tal infinito clitoriano.

Ah, se soubessem como ele é doce,
audaz, vivo e absoluto de paixão!

Escorrem-me pelas pernas os beijos
que me não dás!
Pelos abundantes seios que acaricio
faço renascerem erectos os mamilos
e por momentos quem me dera ser tu,
mesmo não sendo, beijo-os…
Sabem-me a fêmea e a mar
enquanto tu sempre me soubeste de modo igual.

Escorrem-me memórias desta alma desfeita
enquanto fazíamos amor pelo chão da casa,
pelos becos sempre que nos desejávamos
mais que o próprio desejo.

Não deixei de voar no absoluto meu amor
no tal infinito clitoriano que me invade apaixonadamente
mas escorro silêncio e lágrimas por todos os poros de mim.

© Célia Moura
Foto – “pixabay”

sábado, 13 de outubro de 2018

O poeta é assim uma espécie de artesão fervilhando no sangue das palavras e um profético transe celebrado no silêncio.
Célia Moura
Dmitryi Hohlov Photography

Vídeos


SOLIDÃO

Sentiste a minha boca no sangue
de todas as alvoradas?

Não, não me ficou o cúmplice sabor da paixão
tatuado na saliva e da enseada
não há registo de corpos nem gritos de gaivotas alvoraçadas

Sentiste sim o leve toque dos meus lábios
um banal e rotineiro contrato lacrado com um beijo

Nunca te lançaste no meu mar,
esse meu amante, confidente, irmão amigo
e não uniste teu grito ao meu.
Banalizaste as flores silvestres, e todas as outras
as rosas, as tulipas, os antúrios…

Enquanto galopo por desertos minados de escorpiões
em carne viva, arrasto esta sede por todas as pedras da calçada
que me agridem – ai quem me dera que todas elas fossem desfeitas,
que nunca mais nenhuma delas se libertasse!
Abruptas, rudes, assassinas as pedras da calçada!

Sentiste o segundo onde se rasgou de lés a lés
o ventre ao sortilégio e viste o sangue tatuado
no olhar das gentes?!
Vê-lo-às sempre na árvore que sustenta os ventos
na densidade opaca dos meus olhos.

Célia Moura – A publicar “Terra de Lavra”

sexta-feira, 12 de outubro de 2018


Chegará o momento
em que permanecerei naquele silêncio inerte,
quieta como sempre desejaram que estivesse
onde poderão dizer tudo sobre mim,
sobretudo as calúnias que tanto vos faz arder as línguas
desde que a principal raiz envenenou sua única semente
e sobre ela se aconchegou.

Permaneço de pé na arena do julgamento tal como um animal prestes a ser marcado com um ferro em brasa,
e dou-me com o prazer de nunca ter sido chicoteada.

Na arena me dispo de todas as belas granadas, dos cristais e de mim.
Nenhuma palavra me poderá salvar, nunca escrevi coisa que me pudesse salvar.
A poesia se for verdade, irá lembrar-me nesta valsa que nunca soube dançar,
neste palco absurdo onde amei, me rebolei e sonhei todos os sonhos impossíveis.

A incoerência foi ter estado aqui no local errado, na época errada sentir tantas almas dentro da minha, sendo somente uma.

Célia Moura
© Anton Belovodchenko photography

Garça Inflamada

Tenho uma garça inflamada de sonhos no lugar do coração
e do meu ventre gritam araras,
Desde o dia que de mim partiste
E sinto-te tal como a chuva abençoada que me
encharca os negros cabelos,
Me esborrata a maquilhaquem do rosto
E faz dançar no terreiro
Tenho uma caixa de Pandora nos olhos da saudade
O esboço das tuas mãos nos meus seios
E flamingos como companheiros
Para ir…

© Célia Moura – a publicar
(Steve Richard Photography)

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Terror de ser silêncio

Terror de ser silêncio
no sangue da poesia
onde fervilham palavras
beijando a púbis
aos amantes desencontrados.

Temor de ser coisa nenhuma
e esvoaçar como um pirilampo
que não se deixa contemplar,
menina de cidade vestida.
Loucura de ser verdade
ousadia por tuas mãos
despida.

Mulher saudade
archote iluminado por nossas preces
bendito,
cânticos de paz convocando marés
aos pés da liberdade rendidos!

Célia Moura
Ilustração - "pixabay"

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

ÚTERO


















Soltam-se gritos do meu corpo
como fluídos nesta metamorfose de palavras absurdas
de bêbados conversando madrugada fora
enquanto sabes que estou na esquina mais oblíqua
junto com a prostituta e o desertor.

Sim, claro que bebo um copo com os que se embriagaram um pouco mais,
sejam eles inteligentes e me falem de filosofia, ou
simplesmente me façam gargalhar.
Que quereis de mim se sou peregrina de todas as marés
e todos estes espasmos ousados no ventre de minha Mãe!
Poderia agora ser útero?
Sim, útero do útero de todas as fêmeas e ainda assim
deixar mais um resplandecente e puro!
Todos os gritos se soltam de mim.
como meus ossos e tendões no tudo que sonhei
com a certeza que as crianças possuem ao nascer
magníficas coroas de lírios na cabeça
e gargalhadas nos pés.
Deixem que seja assim, que todos os gritos se soltem da minha cabeça,
já sem lírios
ou açucenas,
já sem conchas, maresia ou paixão.
Sou este silêncio de morte
onde me amas ainda.
Onde me prostrei sem qualquer música
e me rendi ao sonho de estar para sempre lúcida
ainda que saboreando maçãs
dormindo.

Célia Moura
Patrick Odorizzi photography

A Ternura do Sangue


A Ternura Do Sangue
Na foz do teu corpo brando
de seda, de açucenas brancas
libertei o grito nutrido
de água, sangue, amor,...dor!

Na foz do teu corpo nascente parti.

Resplandeces ainda devoção,
pelo jardim suspenso na ilusão,
sorrisos teus Mãe
num botão de rosa,
a rodopiar segredos de outrora
gerados na berma do teu ventre
de essência.

E, nas mãos da evasão
ergo teu rosto de prata
reflexo deste trémulo anoitecer
em que te olho e regresso, desvendo e prendo,
meu sangue, minha dádiva de candura...
...e ouço ainda tua voz de cristal, lá longe,
tão longe Mãe, a embalar meu sono
na ternura das colinas.

Célia Moura , in “Jardins do Exílio” - Hugin Editores - 2003
Ilustração – Sebastian Luczywo Photography

Eu só desejava que me amasses


















Eu só desejava que me amasses nada mais.
Que teus olhos me vissem novamente quando me olhas
e já não me enxergas.
Eu só queria a alegria do teu rosto uma outra vez
e que voltasses a sorrir-me apenas por me veres.
Sei-te cego há tanto tempo meu amor,
desesperado, desiludido, desafortunado, ainda assim desperto!

Por vezes, como quem já nada mais tem a perder
desafio-te sem ter noção de como poderá ser fatal
o veneno de um escorpião amarelo.
E permito que me mates todas as vezes que te apetecer.
É quase viciante e indolor no corpo
a forma como me permito sufocar.
Como eu desejaria que te voltasses para mim
com a mesma paixão de outrora,
e me cuidasses como a tua tulipa negra!
Mas tudo isto é vão, tal como vã eu sou.
Tudo é inútil e já nem palavras poderão existir...
gastamo-las todas!
Só a minha ausência te fará repousar a alma desfeita
e eu não sei para onde vou.
Desencontro-me!
Quem dera eu sonhe ser uma criança à janela da vida
com um bibe azul e possa percorrer novos horizontes
recomeçando exactamente do local onde me perdi.

Célia Moura
Imagem - "pixabay"

Tira-me o oxigénio à vontade!

Tira-me o oxigénio à vontade! Coloca um garrote a apertar o meu pescoço a cada segundo que passa, Que ainda assim não estilhaçarei de pólvo...