sexta-feira, 12 de outubro de 2018


Chegará o momento
em que permanecerei naquele silêncio inerte,
quieta como sempre desejaram que estivesse
onde poderão dizer tudo sobre mim,
sobretudo as calúnias que tanto vos faz arder as línguas
desde que a principal raiz envenenou sua única semente
e sobre ela se aconchegou.

Permaneço de pé na arena do julgamento tal como um animal prestes a ser marcado com um ferro em brasa,
e dou-me com o prazer de nunca ter sido chicoteada.

Na arena me dispo de todas as belas granadas, dos cristais e de mim.
Nenhuma palavra me poderá salvar, nunca escrevi coisa que me pudesse salvar.
A poesia se for verdade, irá lembrar-me nesta valsa que nunca soube dançar,
neste palco absurdo onde amei, me rebolei e sonhei todos os sonhos impossíveis.

A incoerência foi ter estado aqui no local errado, na época errada sentir tantas almas dentro da minha, sendo somente uma.

Célia Moura
© Anton Belovodchenko photography

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