sábado, 13 de outubro de 2018

SOLIDÃO

Sentiste a minha boca no sangue
de todas as alvoradas?

Não, não me ficou o cúmplice sabor da paixão
tatuado na saliva e da enseada
não há registo de corpos nem gritos de gaivotas alvoraçadas

Sentiste sim o leve toque dos meus lábios
um banal e rotineiro contrato lacrado com um beijo

Nunca te lançaste no meu mar,
esse meu amante, confidente, irmão amigo
e não uniste teu grito ao meu.
Banalizaste as flores silvestres, e todas as outras
as rosas, as tulipas, os antúrios…

Enquanto galopo por desertos minados de escorpiões
em carne viva, arrasto esta sede por todas as pedras da calçada
que me agridem – ai quem me dera que todas elas fossem desfeitas,
que nunca mais nenhuma delas se libertasse!
Abruptas, rudes, assassinas as pedras da calçada!

Sentiste o segundo onde se rasgou de lés a lés
o ventre ao sortilégio e viste o sangue tatuado
no olhar das gentes?!
Vê-lo-às sempre na árvore que sustenta os ventos
na densidade opaca dos meus olhos.

Célia Moura – A publicar “Terra de Lavra”

Sem comentários:

Enviar um comentário

Tira-me o oxigénio à vontade!

Tira-me o oxigénio à vontade! Coloca um garrote a apertar o meu pescoço a cada segundo que passa, Que ainda assim não estilhaçarei de pólvo...