domingo, 28 de outubro de 2018

Morrem-me os dias
Nos ombros das planícies
Que teus olhos carregam como um fardo.

Morrem-me os gestos
No entardecer das palavras
Meu amor,
Neste Outono
Em que as crianças já não sabem
Brincar à chuva.
É quiçá por elas que sobrevivo ainda
Entre o riso e a loucura
Porque meu leito é pronto
Repleto de silêncio
E eu resisto,
Persisto
E não vou

Morrem-me as memórias,
Os portais da infância,
As estrelas,
E até aquela
A mais consagrada de nós!
Onde me terei esquecido dela?
Terá sido na varanda das quimeras
Entre o banal e a desgraça?!

Morrem-me as mãos
Em sua dormência
Exauridas de clemência
Expostas ao sagrado e ao profano.

Morrem-me os dias
A cada anoitecer
Tal como tudo o que é natural e se esvai.

E tu
Morres-me nas palavras que não sei dizer
E naquelas que jamais te diria
Entre lírios brancos e orquídeas
Lágrimas e sangue de mim
Neste exílio onde me enluto
Enlaçada no beco do teu corpo,
No hálito dos teus sentidos
E na saudade das nossas mãos
Beijando o carmim dos dias.

Célia Moura, a publicar “Terra de Lavra”

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