domingo, 28 de outubro de 2018


Um Abraço

Duvido que as estrelas e o infinito me consigam responder quem és, de onde surgiste, nem sequer por mais imaginação que tenha consigo imaginar uma idade para ti.
Aquele momento em que vieste a mim, esse sim, tem nome, tem cheiro, tem emoção sempre.

Foi na rua, é sempre na rua que me acontece o melhor e o pior. Porque será nas ruas que me perco e que me encontro, questiono-me tantas vezes.
Deveria só por isso ter sido parida na rua, mas não fui.
Quem sabe nas ruas eu morra…
Que Deus não permita, mas que eu não veja tanto ser humano como tu que a mim vieste, morrer nas ruas. Não é digno partir sozinho no abandono de uma rua, de um beco, de um banco de jardim.

Trazias a fome nos olhos, escorria-te dos cabelos a vil miséria de um país tão ou mais desgraçado que tu.

São para ti estas palavras que escrevo sem nexo, porque preciso, porque talvez nunca mais te veja e quero que saibam que o genuíno abraço que me ofereceste foi sem sombra de dúvida um dos mais intensos que já recebi.
Trouxe comigo o teu cheiro, mas não fiquei incomodada, ainda que fosse nauseabundo, enquanto te deixava a comer sentado na mesa do café, e meus passos impotentes se afastavam e os olhos já transbordavam as lágrimas. Ia clamando serenamente a um Ser superior que cuidasse de ti já que eu não tinha quaisquer meios e te deixei em Suas Mãos.

Daquele momento nosso, da breve alegria dos teus olhos como uma criança pobre a quem dão um brinquedo, neste caso comida e da felicidade que trago em mim do teu abraço, alimento-me tantas vezes meu Irmão e aguardo o nosso reencontro.
Sabes, não trocaria a autenticidade do teu abraço por nenhum outro, ainda que fosse de alguém bem poderoso, bem cheiroso, de excelente aparência…esses para mim não passam de números, abraços como os teus são lume, são a essência que move os dias.


Célia Moura - 2014
Imagem- "google"

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